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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Paixão que não se mede: 365 dias seguindo o Flamengo


Conheça a trajetória de Márcio e Robson, torcedores que assistiram aos 66 jogos do Rubro-Negro nesta temporada



Uma paixão que dá gosto de ver, impressiona. Desmedida e contagiante. Chamá-los de malucos nem ofende. É o que mais ouvem desde o início do ano. É difícil encontrar adjetivos para definir o jornalista Márcio Moura, de 33 anos, e o arquiteto Robson Olivera, de 40. Dois caras que respiram Flamengo, que têm o clube do coração no fundo da alma (no caso de Márcio também tatuado na pele) e um bocado de boas histórias para contar.

A primeira delas é a da amizade da dupla. Um convívio recente, de pouco mais de dois anos, que vai ser levado para o resto da vida. Foi daí que ganhou força uma ideia incomum. Em 2008, Márcio queria ir a Belo Horizonte para assistir a Flamengo x Cruzeiro. Sem companhia, telefonou para o amigo Alan, que o colocou em contato com Robson. Robson topou acompanhá-lo.
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- Trocamos uma ideia e fomos viajar. Nessa viagem, descobrimos que tínhamos o mesmo sonho: pegar um ano e seguir o Flamengo em todas as partidas. Assim nasceu o 365 – contou Márcio.

O 365 tem nome e sobrenome. Trata-se do documentário “365 dias seguindo uma paixão”. Empolgados pelo título do Campeonato Brasileiro de 2009, escolheram 2010 para acompanhar o Rubro-Negro onde ele estivesse. A paixão pegou a estrada, ganhou asas, cruzou fronteiras.
Flamengo - Torcedores do Fla com ingressos - 365 diasRobson e Márcio exibem os ingressos de todos os
jogos do Fla (Richard Souza/Globoesporte.com)
- No dia 17 de janeiro, gravamos o primeiro jogo (contra o Duque de Caxias), no Maracanã, sob sol de 42 graus. Tivemos um probleminha com a câmera, que estragou. Fomos correndo a um shopping perto do Maracanã para comprar outra. Aí começou o documentário. Focamos na ideia de acompanhar torcedores apaixonados como nós – explicou Robson.

Foi o ponto de partida de um sonho levado a sério, um compromisso difícil de ser sustentado. A vida passou a seguir a rotina de jogos do time. Família, amigos e trabalho ficaram em segundo plano.

- Sempre tivemos a preocupação de não falhar. Nossa ideia era ir a todos os jogos. Se eu tivesse uma câmera quebrada, roubada, esquecesse em casa, acabaria o projeto. Havia esse medo. Mas fomos 100%. Foram 66 partidas acompanhando o nosso clube do coração – disse Márcio.

O 365 desbravou 14 cidades brasileiras, além de Caracas, na Venezuela, e Santiago, no Chile (confira a rota dos torcedores no infográfico abaixo. Basta clicar no escudo do Fla para ver a lista de partidas em cada local). Robson elege dois jogos fora do Brasil como os mais marcantes.
- Duas coisas me marcaram. Uma foi o jogo contra o Caracas. Primeiro porque jogamos contra um time de um país que não tem tradição no futebol. Quando vimos, estávamos no meio da torcida deles, não tinha estrutura para receber partidas de futebol. Não havia policiais no estádio. Quando o Flamengo fez 1 a 0, fomos atacados com facas, garrafas, perdemos bandeiras, a bandeira do Rio de Janeiro. Os torcedores do Flamengo se uniram, ganhamos a partida (3 a 1, em 10 de março) e no fim saímos com os jogadores escoltados do estádio. Foi marcante. No Chile (contra o Unversidad do Chile, em 17 de março), há alguns dias havia acontecido um terrível terremoto e abrimos uma bandeira do Flamengo com a frase “Fuerza, Chile!” e todo mundo levantou e nos aplaudiu. Aquilo marcou muito para mim (o Fla perdeu por 2 a 1) – relatou.
Mario Robson 365dias FlamengoNo Chile, Márcio e Robson viram os efeitos do
terremoto (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
Márcio elege a partida contra o Corinthians, pelas oitavas de final da Libertadores, como a mais impressionante.

- O jogo que mais me marcou foi o Flamengo e Corinthians, onde eliminamos o Corinthians dentro do Pacaembu (em 5 de maio, a derrota por 2 a 1 classificou o Fla). Tinha todo esse projeto pró Corinthians, essa coisa do Ronaldo, e eles nunca ganharam uma Libertadores. Conseguir eliminá-los na casa deles foi uma experiência incomum, voltamos para casa muito felizes, pensando “agora vai”. Não foi, mas está tranquilo – lembrou Márcio.

Nas quartas de final, contra o Universidad do Chile, o Rubro-Negro viu o sonho do bi continental ruir. Márcio e Robson estavam lá, sofreram. Também não gostaram nada da derrota na final do Campeonato Carioca (contra o Botafogo) e muito menos da fraca campanha no Brasileirão, quando o risco de rebaixamento só foi eliminado na penúltima rodada.
Números do ‘365’:

14 cidades brasileiras
2 cidades estrangeiras
66 jogos
33 horas de imagem
300 fotos por partida
R$ 60 mil investidos
 
- Em nenhum momento pensamos em parar pelos resultados. Não tivemos bons resultados durante o ano, mas dissemos que iríamos até o fim. Tivemos dificuldades financeiras, porque o projeto não é barato. Na pausa para a Copa do Mundo, paramos, analisamos os custos e decidimos se continuaríamos ou não. Tivemos o apoio de alguns amigos para seguir. Setembro foi negro, pois o Flamengo jogava quarta-feira e no fim de semana. Quando decidimos continuar, só seria possível se revezássemos. Nos desdobramos. Fazia a minha parte, de fotógrafo, a do Márcio, que era a filmagem, além de esticar a faixa. Com ele foi da mesma forma. Aí vários amigos de viagem ajudavam com chuva ou com sol. São amigos que conquistamos seguindo essa paixão - lembrou Robson.

Os rubro-negros certamente vão lembrar da faixa com o título do documentário que esteve em todas as partidas da equipe na temporada. A dupla investiu R$ 60 mil no projeto. Poderiam, por exemplo, ter comprado um carro novo cada. Se orgulham de cada centavo gasto, dormiram em aeroportos, dividiram almoço, viveram alegrias e tristezas. Garantem que tudo valeu a pena. Conheceram rubro-negros tão ou mais apaixonados que eles.  
Sempre tivemos a preocupação de não falhar. Nossa ideia era ir a todos os jogos. Se eu tivesse uma câmera quebrada, roubada, esquecesse em casa, acabaria o projeto. Havia esse medo. Mas fomos 100%"
Márcio Moura, louco pelo Fla
- No Nordeste, ondem muitos têm uma condição financeira ruim, um torcedor que não tinha dinheiro para nada contou que colocacava todo mês R$ 10 num envelope e mandava para o Flamengo. O cara não tem o que comer, não tem o que dar aos filhos, mas faz questão de mandar dinheiro para ajudar o clube. No último jogo (contra o Santos, na Vila Belmiro, dia 5 de dezembro), o Ricardinho, um amigo que viaja com a gente, apaixonado, contou que neste ano a mãe dele teve câncer, em estado terminal. Ele pediu a Deus para ela não morrer em dia de jogo do Flamengo. Fico arrepiado contando isso - afirmou Márcio. 
O momento de maior tensão da produção do documentário foi no casamento de Márcio. Não fosse a compreensão da esposa botafoguense Patrícia, o 365 não teria vingado.
Mario Robson 365dias FlamengoMárcio e Robson em ação: são 33 horas de imagem que vão virar 90 minutos (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
- Meu casamento seria em 6 de março, bem no início do dumentário, tudo marcado, salão de festas, bonito. Saiu a tabela do Carioca e o Flamengo jogaria nesse dia (contra o Resende). E agora Robson? Tive de convencer a Patrícia a mudar a data de casamento. Ela aceitou, consegui para 27 de março. Só que nossa brilhante tabela mudou um jogo do dia 28 para 27. O Robson era meu padrinho, então não teria nenhum dos dois. Sorte que o jogo voltou para o dia 28 (contra o América). Casei dia 27, fui para a noite de núpcias, voltei, passei em casa, botei o manto sagrado, saí com a dona Maria com as malas da viagem, vi o jogo e fomos viajar. No retorno da lua-de-mel, deixei a minha esposa em casa, peguei a camisa do Flamengo e fui para Flamengo e Friburguense, em Moça Bonita (em 4 de abril). O jogo que acabou aos 43 do segundo tempo porque não tinha mais luz. Foi corrido (risos) - lembrou.
Em nenhum momento pensamos em parar pelos resultados. Não tivemos bons resultados durante o ano, mas dissemos que iríamos até o fim. Tivemos dificuldades financeiras, porque o projeto não é barato."
Robson Olivera, fanático pelo Rubro-Negro
Patrícia será devidamente recompensada em breve com uma viagem a Buenos Aires, na Argentina. Milhas não faltam para a dupla, que viajou de avião e carro.

O esforço sem tamanho surpreende ambos. Quando olham para trás, Márcio e Robson custam a acreditar que conseguiram realizar o sonho. Pretendem lançar o documentário em maio de 2011. A aventura com as impressões da dupla será contada em 90 minutos, como se fosse um jogo de futebol. A intenção também é publicar um livro com as fotos das viagens e passagens curiosas das andanças.

- Tivemos alegrias, jogos que perdemos, mas levamos. Choramos no Chile, que ganhamos, mas não levamos. Isso dá o sentimento de que valeu a pena - frisou Robson. 
Márcio completa com frases carregadas de emoção.
- Torcer pelo Flamengo não é nada comum. É uma paixão que não tem como dimensionar. Ser Flamengo é nunca estar sozinho em nenhum lugar desse planeta - destacou. 
 O "365 dias seguindo uma paixão 2" não está descartado. No entanto, Márcio e Robson dizem que só vai ser realizado em caso de patrocínio. Com o fim do Campeonato Brasileiro, no início deste mês, eles andam perdidos sem jogos do Fla. 
- Fim de semana sem futebol, meu Deus, o que está acontecendo? Domingo sem futebol, sem Flamengo... vou ver natação, ginástica olímpica, basquete. Em algum lugar tenho de estar com o Flamengo - comentou Márcio, aos risos. 
Flamengo - Torcedores com a camisa do documentário - 365 diasRobson e Márcio exibem a camisa personalizada com o título do documentário (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)

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