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quarta-feira, 3 de março de 2010

É Natal, Zico comemora seu 57º aniversário

O Homem
Arthur Antunes Coimbra nasceu às 7h do dia 3 de março de 1953, de parto natural, na casa 7 da rua Lucinda Barbosa, no subúrbio de Quintino Bocaiúva, zona norte do Rio de Janeiro. O caçula dos seis filhos do imigrante português de Tondela, José Antunes Coimbra, com a carioca da gema, Matilde da Silva Coimbra. Seu Antunes, fervoroso torcedor do Flamengo, foi goleiro amador na juventude e por pouco não se profissionalizou por seu clube de coração. Trabalhou em padaria, mas já estava dedicado ao ofício de alfaiate no terceiro ano da década de 50. Já dona Matilde, a Tidinha, era a responsável por organizar o time da casa, que acabava de ganhar um reforço. Pela ordem, a família Coimbra já contava com Maria José (Zezé), José Antunes (Zeca), Fernando (Nando), Eduardo (Edu) e Antônio (Tunico).

As quatro letras que marcaram o futebol mundial, Z-I-C-O, entraram na vida de Arthur ainda na infância. Pequeno e franzino, não foi difícil Arthur virar Arthurzinho e depois Arthurzico. Até que uma prima, Ermelinda, reduziu carinhosamente para Zico. O outro apelido, o de Galinho de Quintino, foi dado anos depois pelo radialista Waldyr Amaral, que se inspirou no jeito de andar do craque.

Zico brincava na rua e fazia pequenos bicos na feira para poder comprar figurinhas e pão de mel, seu doce preferido. Uma liberdade vigiada pelos olhares rigorosos e atentos dos pais, além da orientação dos irmãos. Mamou no peito de Dona Matilde até os seis anos e cresceu como uma criança normal do subúrbio carioca. Mas, características como criatividade e organização. já se destacavam no comportamento dele. O melhor exemplo disso é o fato de Zico ter anotado todos os gols de sua carreira num caderninho.

Por insistência da mãe, chegou a estudar piano e até participou de teatrinhos amadores no colégio. Mas o palco que o esperava era outro. A aptidão artística já se manifestava quando a bola estava em seus pés.


Quem acompanhou de perto o crescimento de Zico foi a irmã Zezé, que fala da infância do caçulinha da família:



Zico foi um menino que acompanhou muito os irmãos e todos jogavam bola, inicialmente Zeca e Nando no clubinho da rua, o Lucinda. Edu era o mascote e eu a madrinha. Meus primos também jogavam e Zico, ainda bem pequeno, via tudo isso. Pela diferença de idade, era o mais exigido e também muito rigoroso no que fazia. Brincava sozinho e gostava de tudo que envolvesse futebol: botão e totó eram os brinquedos preferidos, além da bola. Curioso é que jogava ele contra ele mesmo e quase Flamengo contra Flamengo, para nunca perder. Zico era uma criança saudável que vivia com liberdade na nossa rua. Lembro-me que quando ele tinha uns 10 anos mais ou menos, o Juventude foi criado. Um time de futebol e bloco de carnaval que se instalou no quintal lá de casa. Depois que o campinho onde eles jogavam foi destruído, nossos pais usaram o terreno dos fundos da casa para fazer uma quadra de futebol de salão. Todos os irmãos eram do time. E já se fazia notar o grande traço da personalidade de Zico que é a necessidade de auto-superação. Uma vontade de melhorar sempre suas marcas e ultrapassar fronteiras: uma certa aura de imortalidade. Só os gênios têm essa característica de não se contentar com conquistas e buscar sempre superar limites"

A união dos Coimbra, temperada com boas doses de disciplina, ajudou a formar um time de profissionais em diversas áreas. Antunes em Administração de Empresas e Economia, Nando em jornalismo, Tunico em Direito, Edu em Educação Física e Zezé em psicologia. O próprio Zico só pôde seguir no futebol com a promessa de continuar estudando. Para que isso fosse possível, encarava uma maratona diária da zona norte (Quintino) à zona sul (Gávea) passando pelo Centro, onde ficava seu colégio. Fez admissão na Escola Haiti; o ginásio, no Rivadávia Correia, e formou-se em contabilidade na Escola Santos Dumont. Chegou a cursar quatro períodos de educação física na Universidade Castelo Branco, mas teve de abandonar em 1983, quando se transferiu para o futebol italiano. A interrupção decepcionou um pouco Zico, que carregava consigo a vontade de conhecer mais a fundo outros esportes, principalmente o atletismo.
O Ídolo

Zico é o maior artilheiro da história do Flamengo com 508 gols em 731 jogos, e ídolo de uma nação com mais de 35 milhões de torcedores espalhados pelo país. Deixou sua marca 333 vezes no Maracanã, um recorde que ainda não foi quebrado por nenhum outro jogador. Conquistou a Itália nas duas temporadas em que jogou pela Udinese, deixando um tempero de feijoada na tradicional ‘macarronada’. No Japão, tem a admiração de um povo que não se cansa de homenageá-lo pelo que ele fez no futebol da Terra do Sol Nascente. Os japoneses transformaram sua despedida definitiva dos gramados em um carnaval (1994), construíram duas estátuas, e o imperador entregou a ele uma comenda pelos serviços prestados ao país. A prova maior de confiança, no entanto, aconteceu no ano passado, quando lhe deram a árdua missão de assumir o comando da seleção nacional que busca a vaga na Copa de 2006. Dos tempos de jogador, vale ainda destacar a reverência dos países por onde Zico apenas passou, como a França e a Espanha.
Não é possível precisar o momento em que o homem vira ídolo quando isso ocorre naturalmente, sem a influência de recursos para a construção de uma imagem. Zico é mesmo um exemplo à moda antiga. E tudo partiu do aconchegante Bairro de Quintino, por uma conseqüência de dom, amor ao futebol, respeito, disciplina e muita determinação. Isso para citar alguns dos ingredientes principais da mistura. Nada artificial ou construído.
A relação com a bola nos tempos de menino, por exemplo, já era afetiva. Zico dormia com ela ao lado do travesseiro, tratava com muito carinho. Podia ser de meia, no jogo de botão, ou no totó, o importante era que as atenções estivessem concentradas nela: a bola. E ela nunca o deixaria em situação difícil. Aprendeu a ficar sempre perto dos seus pés, a obedecê-lo para encontrar o caminho do gol.
As primeiras lembranças de Zico no Maracanã são do dia 23 de abril de 1961, quando ele tinha apenas 8 anos. Talvez nesse dia tenha começado fisicamente o caso de amor do futuro craque com o Templo do Futebol. Levado pelo pai a um jogo em que o Flamengo acabou conquistando o Torneio Rio-São Paulo, o pequeno Arthur pôde acompanhar o talento de um alagoano chamado Edvaldo Alves de Santa Rosa, o Dida. O camisa 10 do Flamengo marcou os dois gols da vitória e consolidou-se como ídolo no coração e na memória do Galinho. Encantou o menino. Mas há quem jure de pés juntos que essa história começou bem antes. ‘Di-Da’ teria sido uma das primeiras palavras que Zico pronunciou, aos dois anos de idade.
Quatro anos mais tarde, Zico pisaria pela primeira vez no gramado do estádio que o consagrou, levado pelo vizinho Ivo, que trabalhava na administração do estádio. Nessa época o Galinho já entortava zagueiros e distribuía passes precisos no time de novos do Juventude, nos campos de soçaite, nas quadras de futsal ou mesmo nas peladas jogadas na rua. Mas, nos sonhos, o Templo do Futebol aparecia como o quintal de sua casa. Premonição.
Essa é a homenagem do URUBUTR ao maior ídolo de todos os tempos do Flamengo.

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