Ronaldinho tem a missão de repetir sucesso recente da volta de astros
Ronaldo, Adriano, Robinho e Fred deram títulos a seus clubes. Destes, porém, só o santista conseguiu a meta de disputar a Copa seguinte
Ronaldinho Gaúcho tinha apenas 14 anos em janeiro de 1995. Era um dos inúmeros jovens que, ao vivo ou pela TV, viram o que parecia sobrenatural: Romário, o melhor jogador do mundo, astro da Copa anterior, jogaria no Flamengo. O dentuço já passou dos 30, não foi ao último Mundial, nem disputa mais os prêmios da Fifa. Mas o impacto em quem só o viu franzino no Olímpico ou em visitas esporádicas pela Seleção é parecido. O Ronaldinho que chega ao Rio guarda distância interplanetária daquele que deixou o Grêmio em 2001. A curva na carreira, no entanto, é descendente. Mas a expectativa é de bom retorno de mídia e resultados marcantes em campo, como aconteceu com outras voltas recentes de astros ao futebol brasileiro.
Se o sucesso de renda e público é garantido, o mesmo não vale em relação ao sonho que Ronaldinho alimenta de voltar para a Seleção e disputar a Copa de 2014. Das estrelas que voltaram recentemente ao país com esta meta, só Robinho conseguiu vestir a amarelinha – e mesmo assim já era um dos homens de confiança de Dunga quando trocou o Manchester City pelo Santos no primeiro semestre do ano passado. Ronaldo seguiu afastado das convocações, Fred continuou esquecido. Roberto Carlos se firmou no Corinthians mas, mesmo com apelos de torcedores, não conseguiu disputar mais uma Copa. Adriano se afundou em escândalos e se viu trocado pelo improvável Grafite na África do Sul.
Todos esses, porém, deram retorno de sobra a seus clubes. Roberto Carlos, eleito melhor lateral-esquerdo do Brasileiro de 2010, deve agradecer sua tranquila aposentadoria no Timão ao amigo Ronaldo. O sucesso do Fenômeno deixou claro para a diretoria que valeria a pena investir em um nome consagrado, mesmo que em fim de carreira. Ronaldo era dado como acabado para o futebol em 2008. Com mais uma operação no joelho, treinava na Gávea com peso de ex-jogador. Os problemas com a balança continuaram no Parque São Jorge, as lesões também foram frequentes, mas os corintianos não têm do que reclamar.
O sistema de som, o tapete no gramado, os fogos, toda a pompa da chegada de Ronaldo ao clube foi compensada. O clube conquistou um Paulista e uma Copa do Brasil com o Fenômeno brilhando. Isso sem contar o retorno comercial. Não é à toa que Andrés Sanchez ofereceu R$ 1,8 milhão por mês a Ronaldinho Gaúcho – cifras próximas ao que Ronaldo recebe atualmente.
Os rubro-negros que hoje têm apenas Deivid, Diego Maurício e Wanderley também sentem saudade dos 19 gols de Adriano no Brasileiro de 2009. O título nacional depois de 17 anos de jejum certamente será mais lembrado que o escândalo na Chatuba, a eliminação na Libertadores, ou o pênalti perdido contra o Botafogo na final da Taça Rio de 2010. Em menos de quatro meses depois da apresentação do atacante, o Flamengo já tinha vendido 75 mil camisas de Adriano, o que representava R$ 600 mil em royalties ao clube. O fabricante de material esportivo que ajudou a bancar a contratação do Imperador teve retorno de aproximadamente R$ 6 milhões, sem contar as camisas comemorativas da conquista do brasileiro e o valor agregado de fortalecimento da marca. A Traffic, que ajuda o Flamengo atualmente a pagar mais de R$ 1 milhão por mês a Ronaldinho, aposta na divisão de lucros dos novos patrocínios que o clube buscará com a chegada do no novo camisa 10 da Gávea.
Robinho ficou só seis meses no Santos em sua última passagem, mas cumpriu seu papel. Ajudou Neymar e Ganso a formarem o time da moda, conquistando o Paulista e a Copa do Brasil com talento e irreverência. Para pagar o salário de Robinho, que também chegou perto de R$ 1 milhão, o Santos funcionou como uma espécie de agência de publicidade do jogador. Quatro contratos foram fechados. O clube complementava com R$ 150 mil mensais - salário que alguns jogadores pagam a jogadores com bem menos fama e eficiência.
Foi também com a ajuda do patrocinador que o Fluminense conseguiu contratar Fred. As lesões foram muitas, assim como as acusações de que o atacante não se cuidava como deveria. Mas no currículo há a participação na surpreendente fuga do rebaixamento em 2009 e no título brasileiro do ano passado, conquista que também teve Deco, outro repatriado.
O projeto de usar empresas como parceiras em contratações de impacto teve Romário, em 1995, como grande trampolim. Na época, Kleber Leite, presidente do Flamengo, contou com a ajuda de quatro patrocinadores para tirar o astro do Barcelona. Mas o desfile em carro aberto por quase toda a orla do Rio só foi possível graças a um detalhe que também é comum a todas as negociações citadas anteriormente: o Baixinho fazia questão de voltar ao país.
- O processo foi fácil. Eu queria voltar, achava que era a hora, foi só conversar. O Ronaldinho também só está voltando porque quer. Torço para que tenha sucesso - disse Romário em entrevista à Rádio Globo.
Um ano depois Kleber conseguiu trazer outro ídolo rubro-negro da Europa, mas Bebeto acabou não tendo uma segunda passagem muito boa pelo time da Gávea. Foi parar em 1998 no Botafogo, onde apesar de não ter conquistado títulos - só chegou perto com o vice-campeonato da Copa do Brasil em 99 - teve atuações mais convincentes.
Casos das antigas
Porém, não é de hoje que craques brasileiros vão jogar na Europa e retornam para o país. Em 1960, depois de ter acusado Di Stefano de sabotá-lo no Real Madrid, Didi (falecido em maio de 2001) retornou ao Botafogo para comandar a equipe no bicampeonato carioca, em 1961 e 62, e a Seleção Brasileira no bi mundial no Chile, também em 62.
Na década de 80, quando a Europa começou a aumentar sua cobiça por jogadores do Brasil, muitos retornaram ainda no seu auge. Caso por exemplo de Roberto Dinamite, que ficou pouquíssimo tempo no Barcelona, e voltou para o seu Vasco no mesmo ano, em 1980. Ele quase foi parar no Flamengo, que acabou trazendo Nunes do México, mas foi no clube que o revelou que Dinamite deu prosseguimento à sua carreira de muitos gols e títulos. Graças a essa volta ele alcançou o status de ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro (a partir de 1971), com 190 gols.
No mesmo ano, Falcão deixou o Inter para ser o Rei de Roma, mas sua volta ao país cinco anos depois, embora tenha gerado muita expectativa no São Paulo, foi frustrante. O elegante jogador atuou muito pouco no Tricolor e foi ao México para a Copa de 1986 como reserva. No mesmo ano parou de jogar.
Em 1983, o Atlético-MG negociou Toninho Cerezzo com o Roma. O ídolo do Galo fez grande sucesso na Itália conquistando títulos no Roma, com Falcão, e no Sampdoria, e só voltou ao Brasil já nos anos 90, em 1992, trazido pelo São Paulo. E o volante teve muito sucesso no Tricolor, tendo inclusive marcado um dos gols na histórica vitória de 3 a 2 sobre o Milan, em Tóquio, que rendeu ao time paulista o bicampeonato mundial interclubes, em 1993.
Foi também em 83 que a torcida do Flamengo sofreu com a perda de seu maior ídolo. Zico partiu para a Itália para jogar pelo pequeno Udinese, onde já estava o zagueiro Edinho, que saiu do Brasil um ano antes idolatrado pelos torcedores do Fluminense. Em 1985, no entanto, foi com imensa festa que o Galinho de Quintino retornou ao clube da Gávea. Apesar do sofrimento pela grave lesão que sofreu no joelho direito num jogo contra o Bangu e o fracasso na Copa do México no ano seguinte, ajudou muito o Flamengo a conquistar a Copa União de 87. Deste time também fez parte Edinho, que retornou sem tanto alarde ao país no mesmo ano para jogar no principal rival do Tricolor.
Júnior, que passou a ser o principal jogador rubro-negro com a saída de Zico, partiu para a Itália em 1984 e só retornou para ser o Maestro da Gávea em 1989. Brilhou muito no seu retorno, sendo o principal condutor da equipe que levantaria o título brasileiro de 1992. Outro que voltou para o Flamengo depois de ir para a Itália foi Sócrates, ídolo corintiano que resistiu muito a deixar o país, mas acabou convencido após a derrota das "Diretas, Já", em 1984. Ele foi para a Fiorentina, onde ficou só até 85 e veio para o time carioca para atuar ao lado de seu amigo Zico. Mas a parceria durou pouco e só rendeu o título carioca de 86, no qual a dupla só brilhou na estreia, nos 4 a 1 sobre o então tricampeão Fluminense.
Mas certamente nenhum desses retornos, que tanta expectativa gerou nos torcedores, rendeu uma novela tão extensa quanto essa de Ronaldinho Gaúcho.
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