Edmundo Silva: a catarse com o gol de Pet antes do impeachment
Mesmo com currículo manchado, ex-presidente lembra que time ganhou força com pichações nos muros da Gávea antes do 2º jogo da final de 2001
Edmundo dos Santos Silva foi obrigado a deixar a presidência do Flamengo em 2002, depois de sofrer impeachment por conta de escândalos na parceria com a empresa ISL. A mancha no currículo do ex-dirigente aparece borrada com lágrimas por um momento que ele considera a maior catarse coletiva que presenciou. Há dez anos, ele estava no comando de um clube em constante crise e asfixiado financeiramente. À beira do campo do Maracanã, no dia 27 de maio de 2001, ele presenciou cenas de um final muito mais feliz do que o término do seu mandato.
- Foi a maior catarse coletiva que já vi na minha vida. Pensei que fosse enfartar. Quando estava 2 a 1, desci da tribuna para o gramado (ele aparece no fim do vídeo acima, após o terceiro gol. Confira). Existia uma rixa entre o Edílson e o Pet, que por contrato teria que vestir a camisa 10. Eu disse para eles que nós passaríamos, o Flamengo fica para sempre - relembrou Edmundo.
O ex-presidente recordou de onde acredita ter surgido a força rubro-negra para conquistar o tricampeonato carioca com o gol de falta de Pet aos 43 minutos do segundo tempo, que decretou a vitória por 3 a 1.
- No primeiro jogo da final, perdemos para o Vasco por 2 a 1. Depois, fomos eliminados da Copa do Brasil pelo Coritiba. Os muros da sede da Gávea foram pichados, os vascaínos já se consideravam campeões. Aquilo mexeu com os brios no nosso time, que ficou comovido – afirmou.
Os muros da sede da Gávea foram pichados, os vascaínos já se consideravam campeões. Aquilo mexeu com os brios no nosso time, que ficou comovido"
Edmundo dos Santos Silva
À época, Pet foi um dos alvos da torcida. As pichações 'Morte aos sérvios', 'Edmundo ladrão', 'Beto cachaça', 'Zagallo vice' e 'Eurico neles' estavam acompanhadas da sigla FJV. A agressão foi atribuída pela diretoria do Flamengo à Força Jovem do Vasco. Outra versão dá conta de que torcedores rubro-negros foram responsáveis pelo vandalismo, numa tática nem um pouco correta para estimular o elenco.
- Para mim, isso é falta de educação. Nada mais - comentou o sérvio Petkovic, na época.
Edmundo recordou ainda de onde surgiu a ideia da contratação de Pet.
- Sou baiano, vi um jogo do Pet pelo Vitória e pensei: ‘esse cara é o novo Zico’. Em 2000, quando o técnico ainda era o Paulo César Carpegiani, ele me pediu um camisa 10. Eu falei que já tinha um, que não conhecia bem, mas que jogava muito. Perguntei se ele queria, e o Carpegiani respondeu que sim. Pedi para o Gilmar (Rinaldi, gerente de futebol na ocasião), que foi contratar o Pet.
Antes de o meia sérvio balançar a rede no gol do tricampeonato, a crise financeira que assolava o clube e que tinha no próprio Edmundo um dos principais responsáveis foi usada na preleção com os jogadores.
- Estávamos com três meses de salários atrasados, e disse que a única forma de colocar em dia seria conquistando o Estadual e depois a Copa dos Campeões. Levamos as duas.
Os jogadores conseguiram ver a cor do dinheiro, mas os dois títulos não aliviaram a crise política e financeira, e todo imbróglio entre Edmundo e ISL.
- A briga existe até hoje na Justiça. Fui muito prejudicado no campo dos homens, mas a justiça divina não falha. Se assumisse o clube hoje, eu repensaria muitas coisas. Cometi muitos erros, mas também alguns acertos. Fico feliz por também ser lembrado pelos títulos e por esse gol do Pet – declarou o ex-dirigente.
Edmundo dos Santos Silva, porém, fica melhor no papel de torcedor que vibrou com o gol de Pet.
- A trajetória da bola depois da cobrança desafiou as leis da física – completou.
Um gol, um jogador, um presidente, cada um com suas leis e histórias. No caso de Pet, com um final inquestionável e feliz.
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