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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Infância roubada! O assédio prematuro em jovens jogadores

LANCE! revela como funciona assédio aos jovens, que reclamam: eles querem jogar futebol em paz



Caio do Flamengo (Crédito: Arquivo Pessoal)Caio é agenciado pela Traffic desde os 12 anos (Crédito: Arquivo Pessoal)
Alexandre Lozetti

A família do jovem Caio Rangel da Silva busca sossego. Não está fácil.
O atacante de 14 anos, atualmente no Flamengo, mora com os pais Roberto e Adenilda no Complexo do Alemão, invadido no fim de novembro pela Polícia Militar, ação do combate à violência no Rio de Janeiro.
Além dos tiros, o telefone não dá paz à família. São agentes com cifrões nos olhos e ofertas tentadoras para cuidar da carreira do jogador.
– É horrível, eu queria que parassem de ligar. O Eduardo Uram (empresário de vários jogadores no Flamengo) insiste, o Rodrigo Pitta é outro. Eles oferecem dinheiro, chuteira, eu mando falar com meus pais.
Eles chegaram tarde. Caio, desde os 12 anos, tem a carreira administrada pela Traffic Talentos, braço do fundo de investimento destinado à essa função. Também possui procurador: Marcelo Bastos, da empresa BRFoot, que paga o tratamento para dar massa muscular ao garoto, entre outros tipos de auxílio aos seus pais.
Caio tem sido convocado com frequência para a Seleção Brasileira Sub-14. Seu caso exemplifica a mina de ouro em que se transformaram os adolescentes no futebol do país, disputados por clubes, inclusive do exterior, empresários e investidores.
Para preservá-lo, os pais apostam na educação. A mãe até voltou a estudar como forma de apoio ao filho, que vai à escola toda noite. Nas manhãs, são mais de duas horas até Vargem Grande, onde treina a equipe de sua categoria: infantil (sub-15).
Caio recebe uma ajuda de custo de R$ 250 mensais do Rubro-Negro. Família e empresário reclamam que desde a saída de Zico, o valor não tem sido pago. Versão negada pelo Fla.
– Não tem nada a ver com o Zico. Atrasou dois meses, mas continua normalmente – garantiu Carlos Noval, diretor das categorias de base.
O dinheiro é importante, já que o mesmo valor é desembolsado para pagar o transporte que leva Caio diariamente para os treinos de manhã.
Assédio parecido sofre Paulinho, lateral do Corinthians e seu parceiro na Seleção. O garoto se mudou, em 2007, do Maranhão para o Santos. Sem prestígio com o treinador e vendo colegas receberem até R$ 10 mil por mês, enquanto ganhava R$ 400, decidiu tentar a sorte no Timão. Hoje, sem empresário, recebe R$ 500.
– O pessoal (agentes) joga conversa fora, eles querem ver se estamos no desespero. Mas não corro atrás, quando a mercadoria é oferecida perde valor – revelou Ednílton, em referência ao seu filho Paulinho.
Cada vez mais "mercadorias", os jovens têm a infância roubada e se tornam fonte de lucro alheio.
Cada um defende o seu lado:
Atletas
Só querem paz para jogar bola. Empurram as decisões, sobre ter ou não empresários, mudar ou não de clube, para os pais. Os que já são agenciados ressaltam ajuda na administração da carreira e na elaboração de contratos com marcas pessoais.
Família
Em sua maioria de origem carente, tenta proteger os filhos e ouve quase todas as ofertas de uma vida melhor. Reclama da diferença que alguns clubes fazem entre atletas nas categorias de base e escolhe empresários para que alguém profissional defenda o filho.
Agentes
Defendem-se dizendo que são importantes ao fazer o primeiro contrato profissional para que o jogador tenha alguma parte de seus direitos econômicos, e não fique tudo para o clube. Além de suporte estrutural para a família e boas relações com clubes de fora.
Fundos
Os investidores também se julgam decisivos para a carreira dos jovens, pois negociam aspectos que transcendem as quatro linhas, como direitos de imagem e exposição na mídia. Há também parcerias com diversos clubes estrangeiros: portas abertas.
Clubes
Custeiam a formação dos atletas desde crianças e não têm, até os 16 anos, nenhuma garantia de que entrarão em campo no time principal. Reclamam que a lei os deixa de mãos atadas diante do assédio financeiro que vem do exterior e dos investidores.

Bate-Bola com Caio

Em entrevista ao LANCE!

‘Sonho jogar na Europa, mas quero amadurecer’

L!: Como a Traffic descobriu você e começou a trabalhar contigo?

Caio: Eu comecei no salão, no Pavunense. Fui para o Olaria e começaram a me ver, procurar. Ofereceram chuteira, tudo que eu precisasse. Fui para o Flamengo e estou com eles até hoje.

L!: E por que mesmo assim ainda continuam assediando você?

C: Não entendo também. As coisas mudam muito, faço o meu e chega um monte de gente falando comigo. O Eduardo Uram (empresário) não para de ligar. Minha mãe diz que o contrato não acabou ainda. É horrível.

L!: Você tem um patrocinador pessoal? Quanto recebe?

C: Eles me dão R$ 3 mil em relógios, chuteiras... E um bônus em dinheiro se eu for campeão.

L!: O que faz com o dinheiro?

C: Já ajudei muito minha família, que é humilde. Nem penso muito em mim. Se não fossem eles e Deus eu não seria nada. Já ganhei muitas coisas e dou para minha irmã (Karoline, de 17 anos). Ela fica toda boba, diz que me ama e que eu vou esquecer dela depois que virar jogador.

L!: Qual é o seu sonho?

C: Jogar na Europa ao lado do Messi. Só Ronaldinho é melhor, ele e Neymar. São meus ídolos.

L!: Caso tivesse uma proposta hoje, você iria para a Europa?

C: Ficaria na dúvida. Preferia amadurecer aqui porque lá só tem “maluco” bom. Preciso ir com mais força e experiência.

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