Ronaldinho é apresentado aos torcedores do Fla
na Gávea (Foto: VIPCOMM)O Grêmio sonhou com a volta de Ronaldinho ao Olímpico. Tanto que nem conseguiu enxergar outras necessidades. E manter-se com os olhos fechados trouxe prejuízos ao Tricolor. Seis meses depois do retorno do craque ao Brasil para vestir a camisa do Flamengo, enquanto o Rubro-Negro foi campeão invicto do Carioca e disputa as primeiras posições no Campeonato Brasileiro, os gremistas colecionam decepções na temporada.
É justamente neste momento em que eles se reencontram, neste sábado, no Engenhão, às 18h30m. Dez anos depois da separação, serão adversários pela primeira vez. R10 é cria do clube gaúcho, mas escolheu jogar no Fla no início da temporada. Ficou impressionado com a maior torcida do país, sentiu-se acolhido para retomar a boa fase e batalhar por um lugar na Seleção Brasileira. Em 29 jogos até aqui, alternou bons e maus momentos. Fez o gol do título estadual – foram 13 até agora -, mas fracassou com o time nas quartas de final da Copa do Brasil. Exagerou na noite carioca, caiu de rendimento, só que reagiu e virou o artilheiro do Brasileirão.
O “sim” ao Rubro-Negro fez estrago na Azenha. O segundo divórcio de Ronaldinho com o Grêmio - ocorrido mesmo sem a consumação do segundo casamento entre ambos - desestruturou o débil planejamento tricolor para a temporada. Durante quase seis meses toda a diretoria do clube gaúcho esmerou-se em contratar o então craque do Milan, sem prestar a devida atenção a outros assuntos não menos importantes.
Torcedores gremistas protestam contra Assis e Ronaldinho Gaúcho (Foto: Eduardo Cecconi / Globoesporte.com)Enquanto reuniam-se com Assis, os dirigentes do Grêmio pediram ao empresário de Jonas - Tiago Gonçalves, irmão do jogador - que esperasse o desfecho da negociação para tratar da permanência do atleta no Estádio Olímpico. Mas Jonas e Tiago não esperaram, e o Grêmio pagou caro pela negligência: o artilheiro do Brasileirão 2010 foi jogar no Valencia, sem renovar contrato com o Grêmio, por um valor irrisório.
Desde então, tudo deu errado. Sem Jonas, sem dinheiro, e sem reforços de qualidade, a diretoria demorou a encontrar o rumo. Coube ao técnico Renato Gaúcho assumir o comando das contratações, indicando jogadores e intermediando diretamente os acertos - como já havia feito com Gabriel no meio da temporada anterior. Assim ele assegurou as chegadas de Rodolfo, Carlos Alberto, Vinicius Pacheco, e mais recentemente de Gilberto Silva.
Renato chora ao se despedir do Tricolor gaúcho
(Foto: Wesley Santos/Pressdigital)Além de Jonas, Fábio Santos também foi embora enquanto sonhava-se com Ronaldinho nos gabinetes do departamento de futebol gremista. A equipe, que chegara ao 4º lugar no campeonato nacional poucos meses antes, ruiu. Apesar da bravura nos Gre-Nais, perdeu o Gauchão e cedo saiu da Libertadores.
Paulo Odone, presidente do Grêmio que sempre transferiu a Assis e a Ronaldinho a responsabilidade pelo desacerto, entrou em atrito com Renato Gaúcho - que cobrava reforços, lamentando o tempo perdido na negociação frustrada. Nos primeiros dias de julho, mal também no Brasileirão, Renato foi embora.
No reencontro com o clube que lhe entregou ao futebol profissional, Ronaldinho encontrará um Grêmio combalido, e apreensivo com os apenas dois pontos de distância para a zona do rebaixamento. O Tricolor tem 13 e está em 14º lugar.
Depois de altos e baixos, R10 evolui no Fla
Inveja ou uma ponta de frustração. O gremista que viu Ronaldinho encantar na impressionante vitória do Flamengo sobre o Santos, por 5 a 4, na última quarta-feira, sentiu algo assim. Especialmente aquele que um pouco mais cedo vira o Tricolor empatar em casa com o frágil América-MG (1 a 1). Impossível não pensar, pelo menos por um instante, que o Gaúcho poderia ter vestido tricolor outra vez. Foram três gols naquele jogo e um desempenho memorável.
O meia-atacante rubro-negro comemora o gol de falta sobre o Santos (Foto: Eliaria Andrade / Ag. O Globo)O camisa 10 é o artilheiro do Brasileirão com oito gols, o Rubro-Negro está invicto no nacional e sofreu apenas uma derrota em 2011. O revés, no entanto, deu-se no pior momento. No primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil, a equipe de Luxemburgo foi superada por 2 a 1, no Rio. Naquela partida, o Gaúcho ouviu vaias pela primeira vez. Na volta, jogou bem no empate por 2 a 2, resultado insuficiente para avançar de fase.
Já no Brasileiro, a fase mais irregular de Ronaldinho preocupou os torcedores. Numa sequência de quatro empates seguidos da equipe, o astro não rendeu. Simultaneamente, era fotografado quase todos os dias na noite carioca, comportamento que fez o Flamengo recorrer a Assis para tratar do tema. Coincidência ou não, ele voltou a jogar bem, a ser decisivo e dá a impressão de que os bons tempos voltaram.
- O dia que entenderem que o futebol é um negócio profissional fica tudo no lugar. A opção profissional do Ronaldinho foi o Flamengo, não vejo problema nisso. Não é porque ele começou no Grêmio que ele tem que jogar lá. Algumas pessoas exploram isso como se fosse proibido. Não preciso falar nada com ele. Tem que jogar bola e acabou – disse o técnico Vanderlei Luxemburgo.
Relembre a disputa pelo astro
Não foi fácil para o Flamengo contratar Ronaldinho. Muito se costurou até chegar a hora de o craque ser apresentado na Gávea, em janeiro. Se a ansiedade da torcida renovou-se a cada capítulo de uma negociação quase interminável, a engenharia dos dirigentes por pouco não correu o risco de completar um ano.
Ao lado de Vagner Love e da presidente Patricia Amorim, o craque faz a festa na apresentação
(Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)O clube carioca apostou num projeto construído pelo diretor de marketing Harrison Baptista. Antes de trabalhar no Flamengo, Harrison trabalhou na Texaco - e contratou Ronaldinho como garoto-propaganda da empresa. Neste contato construiu uma relação com Assis - que foi a base para o projeto alicerçado com a Traffic para viabilizar a contratação do astro.
Com boa parte do projeto formatado, o Rubro-Negro manteve firme a ideia de tê-lo em janeiro. No entanto, os meses seguintes foram angustiantes. Assis sumiu, passou a não atender e sequer retornar as ligações.
As notícias de um acerto com o Grêmio no início de dezembro colaboraram para uma sensação de que a negociação estava encerrada. Um sinal disso é que Harrison, o mentor do projeto de marketing, seguiu para um período de férias em Miami.
Funcionários do Grêmio retiram as caixas de som
instaladas para a frustrada chegada de Ronaldinho
(Foto: Mariana Kneipp / Globoesporte.com)Mas, perto do Natal, Assis retomou os contatos. Reuniu-se por três dias com Patricia Amorim no Hotel Fasano, de frente para a praia do Arpoador. A coletiva no Copacabana Palace, dia 6 de janeiro, foi importante para o Flamengo. Enquanto o Grêmio garantia estar “tudo certo”, Ronaldinho e Assis não deram declarações favoráveis aos gaúchos.
Nem quando as caixas de som foram colocadas no gramado do Olímpico o Flamengo se abalou. Os dirigentes estavam convictos de que o Grêmio forçava a barra, até porque Assis permanecia no Rio de Janeiro. No fim da noite do dia 7 de janeiro a novela se aproximou do fim. A comitiva rubro-negra deixou a Gávea confiante.
Os números da proposta inicial aumentaram violentamente até o “sim”, no dia 11 de janeiro. O Flamengo iniciou a negociação propondo R$ 1 milhão de salários por um contrato de 30 meses. O acerto final chegou a 48 meses. No dia seguinte, R10 fora apresentado na Gávea diante de 20 mil eufóricos rubro-negros.
- Estou fechado com vocês. Agora eu sou Mengão - gritou, em um palco lotado e desorganizado.
Na falha de Victor, Ronaldinho Gaúcho aproveita para marcar o gol contra o ex-clube (Foto: Agência Estado)
