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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Campos esburacados, funk e fama de ‘pegador’ no caminho de Love ao futebol

Cria de Bangu, atacante do Flamengo garante que não esqueceu as origens: ‘Mas sei escolher as pessoas que estão ao meu lado a dedo’
Eduardo Peixoto, João Paulo Garschagen e Rodrigo Benchimol Rio de Janeiro



A bola era companheira desde as fraldas. Um pouco mais tarde, surgiram o batidão do funk e as mulheres. Mas o futebol continuou soberano no coração de Vagner Love. O GLOBOESPORTE.COM conheceu os campinhos de terra batida no bairro de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde a nova estrela do elenco do Flamengo deu os primeiros passos.

A localidade do Sandá tem numa praça com bueiros à mostra e esgoto jorrando a céu aberto a principal opção de lazer das crianças. Era ali que o Artilheiro do Amor aprontava durante o dia. Enquanto os amigos dividiam o tempo livre com o cerol e a pipa no alto, o Spock, como era conhecido por causa das orelhas grandes, dedicava-se exclusivamente à arte de fazer gols na rede furada. Para tal, tinha que driblar estrume de vaca, buracos...

VEJA A GALERIA DE FOTOS DA HISTÓRIA DE VAGNER LOVE

A opção deu certo e ele conseguiu vaga no futsal do Bangu, time no qual fez dois gols – sem dó, nem piedade – na estreia pelo Flamengo, no último sábado. Em outro local esburacado começou a chamar a atenção.

- Ele era fera. Sempre foi chato de marcar. Não tenho nem descrição. Não foi à toa que saiu desse campo de areia e foi parar na seleção – disse o técnico Mazola, apontando para o muro que tem o nome de Vagner pintado.

Vagner Love já exibia seu sorriso desde pequeno

O trajeto da casa onde morava até o campo do Bangu era feito no quadro da bicicleta do pai, Ivan. Na camisa do Flamengo que veste, o pintor de paredes carrega orgulhoso o “sobrenome” do filho. Mas nem tudo é amor na relação entre os dois.

- Ele deu a casa para mim, mas em cinco anos jamais me visitou. Queria presença física, não financeira. Fico até deprimido de falar isso. O bagulho é doido. Nem tenho o telefone do meu filho – disse Ivan.

Vagner não foge do assunto e dá a explicação para a relação à distância com o pai.

- Minha mãe (Dona Jaira) se separou do meu pai quando eu tinha dez anos. Desde então, ele nunca mais quis saber de mim. Às vezes eu ia visitá-lo com minha irmã (Vania Love) e na hora de voltar, em vez de dar o dinheiro da passagem, ele falava: “Se vira aí”. Só foi me procurar de verdade quando virei profissional do Palmeiras – disse o atacante.

Ivan, pai de Vagner Love, encostado no muro da sede do Bangu ao lado do nome do filho

Mágoas à parte, seu Ivan conta que o filho nunca foi fã de soltar pipas ou jogar bolinha de gude. Quando não estava jogando futebol, preferia se dedicar a dois outros hobbies.

- Ele era funkeiro. Vivia nos bailes do Cassino Bangu, andava com a galera. Mas nunca deu problema ou foi de briga. Sequer repetiu de ano e completou o segundo grau. Só arrumava problema com mulher. Coitada das namoradas dele, sempre foi mulherengo. Não foi à toa que ganhou esse apelido de Love por ter sido flagrado na concentração dos juniores do Palmeiras com uma menina – disse o pai do jogador.

A família paterna ainda se espalha pelas ruas do Sandá. Tia, primos... Basta circular pela área que vários parentes aparecem. Em uma casa simples, perto do campo de futebol, os avós paternos Ivo e Carmelita abrem a porta para falar do neto.

O vovô Love chora ao falar sobre o sonho de ver o neto no Flamengo. E singelamente faz o pedido:

- Espero que ele tenha muita força nas canelas para correr.

Menos amorosa e chateada com o que considera abandono do artilheiro, dona Carmelita criou um poema. Nele, termina com o seguinte questionamento: “Onde está Love?”

- O meu avô Ivo sempre me procurou. Foi a única pessoa que fez isso e por isso também fui atrás dele – explicou Vagner Love, atualmente com 25 anos.

Radar para lidar com 'aproveitadores'

Ivan no campinho onde jogava Vagner Love

Tão logo foi para a Rússia, o atacante comprou uma casa para a mãe, Jaira, ao lado da sede do Bangu. Posteriormente, levou a família materna para o Recreio dos Bandeirantes, que ao lado da Barra da Tijuca, ambos os bairros na zona Oeste, é um dos redutos dos boleiros cariocas.

- Passamos dificuldade quando o Vagner era novo, mas nunca fome. Isso não cola aqui dentro de casa – disse dona Jaira, que trabalhava como auxiliar de enfermagem do hospital Salgado Filho, no Méier.

Assim como na infância, as festas familiares mantêm as origens simples. Amigos de longa data, pés descalços, cerveja e harmonia.

- Fui muito feliz em Bangu. É muito legal jogar na rua com os amigos. Nunca precisei de condição financeira boa para ser feliz. Mas sei escolher as pessoas que estão ao meu lado a dedo. Sou muito observador e sei quando chegam perto de mim mal-intencionadas, querendo alguma coisa. Sei lidar muito bem com o assédio – desabafou o camisa 9 rubro-negro.
GLOBOESPORTE.COM

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