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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

De olho em 2016, jovens talentos cruzam o país para fazer testes na peneira do Fla

Com 16 anos e 2,04m, Marcelo Deschamps sai de Natal para tentar uma vaga no time infanto-juvenil: ‘Fiquei um pouco nervoso, mas estou confiante’
Danielle Rocha Rio de Janeiro

Agência/Divulgação

Marcelo Deschamps: ala-pivô de 2,04m e sonhos proporcionais ao seu tamanho

A alegria virou dúvida dois dias antes da viagem de Natal para o Rio. Fez o menino de 2,04m, que nem se acha tão alto assim, temer por sua apresentação durante a peneira de basquete do Flamengo que termina nesta quinta-feira. O curativo próximo ao cotovelo esquerdo de Marcelo Deschamps protegia um furúnculo que parecia ser o seu único obstáculo para passar pelo crivo da comissão técnica da Gávea. Mas ele fez valer a máxima de que a dor faz parte do uniforme do atleta.

Aos 16 anos, o ala-pivô que tem sonhos proporcionais ao seu tamanho, passou a gostar ainda mais do esporte depois de ver o ídolo do pai fazer alguns arremessos na quadra do colégio onde estuda e joga no Rio Grande do Norte. 

- Sei que é difícil sair jogadores de lá porque o basquete não tem tradição e é praticado mais nas escolas. Mas o Oscar conseguiu e encerrou carreira aqui no Flamengo. Eu mesmo comecei como nadador, cheguei a ser campeão regional de peito, mas quando fui para o Brasileiro não fui bem. Um professor me viu, disse que eu era grande e me incentivou a mudar de modalidade. Passei a amar mesmo no dia que peguei a seleção do meu estado. Quando vi a convocação para a peneira na internet pedi aos meus pais para vir. Acho que aqui há mais oportunidades, clubes grandes e o basquete é mais visto. Tenho muitos sonhos e um deles é disputar as Olimpíadas de 2016 no Rio. Fiquei nervoso, mas estou confiante - disse Marcelo, que também tem pressa em chegar aos 2,10m e deve passar por testes no Pinheiros.

Diferentemente do discurso do pai, a mãe ainda se mostra um pouco reticente com a ideia de que o filho mais velho possa vir a trocar casa pelo alojamento do Flamengo. Mas resistência mesmo quem não escondeu foi dona Simone, mãe do gaúcho Guilherme Elmer. O ala de 14 anos, ri ao lembrar que na despedida em Caxias do Sul, ela deixou claro que não quer que ele passe. Guilherme deu de ombros. Na companhia do pai, enfrentou 20 horas de viagem de carro atrás do sonho dos dois. Professor universitário e treinador do time que o ala defende, Junior Elmer também foi jogador e quer ver seu menino chegar longe.

O armador Fred marcou presença durante os testes

- Fiquei um pouco nervoso no início e quando vi o técnico do time principal (Paulo Chupeta) chegar. Mas depois passou. Eu quero tentar ser igual ao Mão Santa, chutar bem como ele - afirmou Guilherme.

Há quem queira ser como Kobe Bryant. E não só os que chegaram à peneira vestindo a camisa dele para tentar incorporar um pouquinho da magia do camisa 24 do Lakers. Igor Szyff passou os últimos seis meses na Flórida estudando inglês. Fez teste para atuar na equipe da Cypress Bay High School e foi aprovado. Armador de 15 anos, conseguiu fazer uma cesta, a la Manu Ginobili nas Olimpíadas de Atenas, logo no início do quarto de observação arrancando aplausos da arquibancada.

-  Kobe para mim é exemplo de tudo. Sou fã dele. Amo jogar basquete e acho que o Flamengo é um bom lugar para começar. Tenho muita vontade de tentar um lugar na seleção de 2016. Acho que vai ser bom ter um técnico campeão olímpico no comando, mas eu gostava muito do Moncho Monsalve, da disciplina dele - disse Igor, referindo-se ao argentino Rubén Magnano.  

Outro que fala com sotaque e se desculpa por isso, é Richard dos Santos, 1,84m, 12 anos, um gigante entre os outros oito aspirantes a vagas nos times pré-mirim e mirim da Gávea. Trocou o Brasil pelos Estados Unidos quando ainda tinha 1 ano e só em julho retornou. Na arquibancada, os pais não conseguiam esconder o nervosismo. Nem eles nem Maurício, que veio de ônibus com Matheus Valério, o filho que já treina no adulto em Joinville, e que o pai não vê como médico ou engenheiro.   

- Eu sei que o Brasil foi representado numa Olimpíada pela última vez em 96, mas a gente joga hoje para poder, um dia, fazer o Brasil ganhar - afirmou o armador.

Victor Mendonça, representante do Mato Grosso, viajou sozinho até o Rio atrás do sonho

E em nome disso, Victor Mendonça, de 14 anos, pegou o ônibus sozinho, e enfrentou dois dias de viagem do Mato Grosso até o Rio.

- Tenho parentes aqui e, apesar de ser cansativo demais, vim buscar meu sonho. Eu fazia jiu-jitsu, conheci o basquete e gostei. Não dormi direito na noite anterior ao primeiro dia da peneira, pensava que realmente viria muita gente, mas estou confiante. Quero tentar ser melhor do que esse aí - disse, apontando para o pôster em tamanho natural de Michael Jordan que estava na lateral da quadra e que, antes de se transformar no maior jogador da história, foi cortado do time de sua escola na primeira tentativa de integrar o grupo.

De olho nos diamantes brutos

A convocação foi feita pela internet e por panfletos. Meninos nascidos entre 1993 a 1997 foram convidados a participar de uma paneira que selecionaria alguns para jogar no Flamengo. Cento e sessenta e oito, de todos os cantos do país, se interessaram. A expectativa mais otimista é que deste total, 20 ganhem o direito de defender as cores do clube.
 

Grupo que busca vagas no time infanto-juvenil

O objetivo, segundo o supervisor do time que é o atual campeão do NBB, é formar atletas que possam vir a integrar o elenco principal e figurar nas seleções brasileiras. Para isso, o Flamengo quer oferecer aos jovens talentos uma estrutura que contemple bolsa de estudos, alimentação e alojamento. Há um esforço também para conseguir um patrocinador disposto a investir uma verba que possa auxiliar com uma ajuda de custo.  

- Com a saída da Patrícia Amorim do cargo de vice de esportes olímpicos e do Arnaldo Szpirro (diretor de basquete), no início do ano passado, muitos meninos saíram das nossas equipes de base. Os técnicos estavam com salários atrasados e nós fizemos um trabalho de resgate, com arrecadação de cestas básicas e capacitando os treinadores também. E a partir do segundo semestre se perdemos três jogos em cada categoria foi muito. Só que não houve tempo de recuperação e só conseguimos o título do pré-mirim. Nós queremos fazer uma equipe sub-20 porque a LNB vai abrir uma liga nessa faixa etária e queremos aproveitar alguns deles no adulto - disse André Guimarães.

Com os olhares atentos, os técnicos de todas as categorias têm marcado presença nos testes. Ao som de músicas que tocam nas arenas da NBA, diante dos olhares apreensivos dos parentes, da pressão da concorrência, das dicas dos jogadores profissionais, roupeiro e massagista, os aspirantes a craques tentam driblar o nervosismo. Alguns, apesar das mãos em prece, não conseguiram passar do primeiro dia. Houve até quem, depois de ter feito parte do time, tenha resolvido voltar. Aos 16 anos e com 1,95m, Carlos Magno é um rapaz de poucas palavras, mas de determinação. Filho de uma auxiliar de serviços gerais e de um motorista aposentado, tem no basquete o instrumento capaz de dar a ele e à família uma vida melhor.

- Eu era do mirim e tive que mudar meu horário na escola. Não tive mais como treinar e resolvi sair. Isso foi há três anos. Vou ter que tentar um lugar de novo. Na minha família as pessoas gostam de futebol, mas eu aprendi a amar isso aqui. Leandrinho e Nenê, que também eram de origem humilde, são uma referência para mim. Se eles conseguiram chegar até a NBA eu também posso - disse. 

Os pequenos posam ao lado do pôster de Michael Jordan e parte da comissão técnica

Os escolhidos receberão uma camisa com a inscrição "Peneira 2010 Mengão, eu passei" e serão convidados a acompanhar Marcelinho & Cia. em ação no jogo de sexta-feira contra o Bauru, na Arena.

- Lembro que quando fiz um teste lá no Canto do Rio, em Niterói, não tinha nem tanta gente assim. Passei, mas eu fui com uma turma que jogava comigo na rua e isso facilitou. Eles estão vindo sem conhecer ninguém e com esse monte de gente da comissão técnica olhando, imprensa, pais. É um grande teste psicológico. Essa é uma iniciativa boa e todos os clubes de grande tradição no futebol deveriam seguir - disse o armador Fred, que ainda se diverte ao lembrar que foi derrotado em um de seus primeiros jogos por 200 a 34.

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