Aos 16 anos, Toró teve dia de Rei Pelé
Volante do Fla era camisa 10 juvenil do Flu quando reviveu o gol de placa do craque do Santos no cinema: 'Gravei das 9 da manhã até 7 da noite'
Por Márcio MaráRio de Janeiro
Ser Pelé, ainda que por um dia, é privilégio para poucos. Ainda mais no cinema. Uma chance que até atores de Hollywood gostariam de ter experimentado. Mas coube a um brasileiro viver a sensação de ser Rei do Futebol. Um jogador em atividade. Rafael Ferreira Francisco, o Toró, volante do Flamengo, foi o maior do mundo em "Pelé eterno", filme de Aníbal Massaini lançado nos cinemas em 2004.
O diretor do longa resolveu recriar a cena do golaço marcado por Pelé no dia 5 de março de 1961 - um lance tão impressionante que rendeu homenagem no estádio e um novo termo futebolístico: gol de placa, expressão para designar belos e singulares tentos. O clássico contra o Fluminense, vencido por 3 a 1 pelo Santos, valia pelo Torneio Rio-São Paulo e tinha sido registrado, mas as cinco fitas que registravam o lance desapareceram misteriosamente. Não há, portanto, imagens daquele que é considerado um dos momentos mais bonitos do Rei.
Toró foi escalado para reviver esse momento histórico e matou no peito, quase no susto.
- Foi uma coisa rápida. Nem deu tempo de eu fazer laboratório. Chegaram e me disseram "faz isso e aquilo". Eu conhecia o Pelé pelas histórias que meu pai contava, os lances que via na TV. A gravação foi num dia só. Mas das 9 da manhã até as 7 da noite. Tive que repetir bastante para chegar à perfeição. Um gol desses do Pelé... Uma coisa montada já é difícil... Imagina o cara fazer isso em 90 minutos - conta Toró, que gravou a cena em 2002, quando tinha 16 anos e cinco meses.
Na ocasião, o jogador era do Fluminense. O diretor do filme, Aníbal Massaini, usou o elenco juvenil do Tricolor para fazer a cena. A garotada era treinada por Altair, ídolo do clube dos anos 60. O ex-lateral-esquerdo estava naquela partida, viu bem de perto o lance e pôde ajudar na reconstituição (veja no vídeo abaixo o making of da filmagem).
- O grupo que dirigia o filme foi a Xerém. O Altair chefiava a delegação e me indicou para fazer o Pelé. Eu vivia um momento legal, jogava naquela posição, era camisa 10. Foi um motivo de muito orgulho fazer parte dessa história - recordou Toró.
Quando chegou ao Maracanã para as filmagens, de boné para trás e uma chuteira laranja, Toró foi perguntado pelo repórter se era ele o Pelé. Os outros meninos falavam todos como os personagens dos papéis daquele dia. Um era Telê, pelo Fluminense. Os santistas eram Dorval (RodrigoTiuí), Coutinho (Arouca)... Mas o protagonista da cena preferiu responder:
- Sou o Toró - disse, aos 16 anos.
Agora, aos 24, ainda que não tenha repetido nos profissionais a habilidade e o estilo impetuoso que o tornavam grande promessa naquela época, não se pode dizer que Toró não venceu. Recuou de posição. Acabou tornando-se bom volante e ganhou títulos no Flamengo: Copa do Brasil em 2006, tri carioca em 2007-08-09 e o Brasileiro em 2009. Um dos jogadores de maior fôlego na equipe, lembrou que, ao "representar" Pelé na jogada do gol de placa, chegou a ficar assustado com a forma física do Rei.
- O que mais me impressinou foi o pulmão, a explosão dele na jogada. Pelé veio correndo por muito tempo da defesa do Santos e ainda chegou de cara para o goleiro cheio de saúde. É uma jogada muito difícil de fazer até hoje em dia, mesmo com a preparação física que temos - conta Toró, que foi à pré-estreia do filme, em 2004, na companhia dos pais, Francisco e Maria. - Foi uma alegria muito grande para eles.
O golaço de Pelé aconteceu aos 40 minutos do primeiro tempo, quando o Santos já vencia por 1 a 0. O Rei pegou a bola na intermediária do Santos e partiu em velocidade para o gol adversário. Passou na corrida por Valdo e Edmilson, deixou na saudade Clóvis, driblou Jair Marinho e Pinheiro, enganou Altair e tocou na saída de Castilho. A torcida do Fluminense presente ao Maracanã se rendeu, e, apesar da tristeza pela iminente derrota, bateu palmas para o camisa 10 do Santos por cerca de dois minutos.
Após o fim da partida, o jornalista Joelmir Betting sugeriu que fosse feita placa de bronze em homenagem à jogada, nascendo, aí, o termo gol de placa.
- Pelé era um jogador completo. Estava vendo uma entrevista dele outro dia, falando da comparação que fazem dele com o Maradona. Ele explicava que o Maradona só batia bem com a perna esquerda e não cabeceava bem. É exatamente isso. Não dá para comparar. Pelé foi muito mais completo - reforça Toró.
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