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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Luxemburgo: 'Sou bom pra cacete. Isso incomoda'

Técnico rechaça decadência e fala em ser presidente do Fla



Técnico, Luxemburgo - Sou bom pra cacete. Isso incomoda - (Foto: Gilvan de Souza)Luxemburgo explicou como se envolve na negociação de jogadores com o clube (Foto: Gilvan de Souza)
Nathan de Lima e Pedro Henrique Torre

Vanderlei Luxemburgo está mais relaxado. Calmamente, ele caminha pelo Ninho do Urubu rumo à sala de entrevista. Chega sério, mas, aos poucos, abre o sorriso com facilidade. Após voltar às raízes rubro-negras em meio ao turbilhão da luta contra o rebaixamento, o técnico planeja entrar, definitivamente, para a História do Flamengo. Primeiro, como técnico de uma equipe que tem Ronaldinho como seu camisa 10. Depois, talvez como manager do departamento de futebol. E, no futuro, o projeto: chegar à presidência.
Conhecedor do clube do qual sempre se declarou torcedor de carteirinha, ele sabe, no entanto, que o caminho político é traiçoeiro. Para isso, deseja se preparar e entender como funciona o mecanismo interno da Gávea. Aí, sim, estará pronto:
– A ideia é me envolver na parte política do clube, mas não como técnico. Para poder vir a ser um dia, quem sabe, presidente.
Nesta entrevista ao LANCENET!, o treinador elogiou a integração dos departamentos do clube na negociação para a chegada de Ronaldinho, a presidente Patricia Amorim, explicou sua influência no episódio e rechaçou a fama de decadente. Confira.
LANCENET!: Esperava um início de temporada tão positivo?
A gente trabalha para isso. Tivemos algumas decisões importantes, prevendo melhorar. Se fosse igual ao ano passado seria ruim. O que aconteceu já é uma coisa do trabalho, já analisado.
L!: Você assumiu o time no ano passado em meio a uma luta contra o rebaixamento e a crise política com a saída do Zico. Como foi administrar esse caldeirão?
Eu já conhecia o grupo. Já havia jogado contra. Conheço todos os times do Brasil e até fora do Brasil. Quando vi que poderia acertar com o Flamengo, fiz uma análise mais forte do time. Dentro da projeção, olhei e disse: "Essa equipe não pode cair." Mas existia um risco muito grande. Sei que a política ali interfere muito no trabalho. Eu confiava no trabalho, que dali para frente seria meu. O elenco era bom, confiava no caráter dos jogadores. Achei que dava. E deu.
L!: A formação do elenco deste ano passava obrigatoriamente por um craque do porte do Ronaldinho?
O Ronaldinho... A primeira vez que foi colocada a possibilidade foi no ano passado. Eu cheguei e disseram: "Existe a possibilidade do Ronaldo." Já existia uma proposta oficial em junho de 2010, assinada pela Patricia. Quando cheguei, o departamento de marketing falou que existia a possibilidade do Ronaldinho mesmo. Falei na hora: "Claro que interessa." Foi uma coisa que foi caminhando. Não passava necessariamente pelo Ronaldo. Seria importante, mas começamos a montar a equipe sem o Ronaldo. Contratamos o Darío (Bottinelli), o Thiago (Neves) foi um negócio que durou bastante tempo. O Ronaldinho a cada dia caminhava um pouco. Foi bom. Montamos o elenco e o Ronaldinho o completou.
L!: Como foi sua participação na negociação para contratá-lo?
Participei do negócio com o Flamengo. Já tenho amizade com o Ronaldo desde a Seleção Brasileira e com o Assis, que sempre negociou por ele. Já estive negociando o Ronaldo não sei se com Palmeiras ou Corinthians. Tenho amizade e falei com ele sobre jogar no Flamengo. Falei com a Patricia, falei com o Michel (Levy, vice de finanças), falei uma hora da manhã, sete da manhã, meio-dia. É envolvimento de negócio. Mas não foi o Vanderlei quem teve a participação. A participação foi de todos nós. Não tem um departamento isolado. Foram Michel Levy do financeiro; Harrison (Baptista) e Henrique (Brandão), do marketing; Patricia, Veloso (Luiz Augusto, diretor de futebol), Luxemburgo, Isaías (Tinoco, gerente de futebol)... Acho que o Flamengo está forte nisso aí. Não existe um departamento que resolveu. Somos todos nós juntos.
L!: Muitas vezes se diz que dirigente contrata jogador sem consultar o técnico. Como funciona esse processo no Flamengo?
Não vão trazer jogador algum sem consulta minha. Podem até trazer, pois o regime é presidencialista. Pode até trazer porque não sou dono do clube. Mas aí vou chegar para vocês (imprensa) e falar: "Olha aqui, não fui eu quem mandou trazer esse jogador. Foi contratado por alguém." Não vejo problema algum nisso aí, mas que tenha alguém responsável pelo negócio. Como nós estamos trabalhando com inteligência e coerência, sentamos à mesa e discutimos cada atleta e cada passo dado.
L!: Este momento do clube, do qual você participa, de construção de CT, estrutura, pode ser encarado como uma nova era?
Isso é uma marca minha. Além de técnico, procuro gerir e melhorar a estrutura. Imagina se eu passar por aqui, com todo conhecimento que tenho em futebol e gestão, e não acrescentar nada? Foi a mesma briga que tive em 91, quando saí daqui. Para que eu estou aqui? Não pode avançar um pouquinho? Voltei agora e praticamente encontrei as mesmas coisas daquela época. Isso tem de avançar. E foi bem recebido no mercado, todos aceitaram. Foi bem legal. Viram que estamos fazendo alguma coisa, está caminhando. O Flamengo começou a criar uma estrutura, ainda provisória, boa. Depois, vai ser dado o pontapé na construção do CT.
L!: No futuro você pensa em deixar de ser técnico e assumir uma outra função, ou se afastará do futebol?
Não quero me afastar disso, não. Tenho ideia de ser dirigente. A ideia de vir ao Flamengo não era nem para voltar para ser técnico. Era voltar talvez num outro momento para começar a construir... Não é ser presidente. A Patricia não é presidente do Flamengo porque ela escolheu ser presidente. Ela fez todo um trajeto político dentro do clube. Ela caminhou politicamente para ser presidente. Então, amanhã diz: "O Luxemburgo vai ser candidato a presidente." É preparado? Conhece os setores do clube que têm a ver a com a parte política? Então, é me envolver na parte política do clube, mas não já, como técnico. Para poder vir a ser um dia, quem sabe, presidente. Essa é a ideia que eu queria. Voltar ao clube, fazer gestão, me aproximar, entender a parte política do clube, que é totalmente diferente da parte profissional, para tentar galgar o cargo de presidente. Agora mudou meu pensamento, pois sou funcionário e não posso me envolver com a parte política. Se eu sair do Flamengo e quiser voltar para tentar alguma coisa política, vou ter de procurar caminho diferente.
L!: Em campo, então, poderia deixar o Junior Lopes (auxiliar), por exemplo, comandando o time?
A ideia é essa. Criar uma gestão uniforme de departamentos. Futebol não é mais amador. É profissional. É fazer um trabalho uniforme, uma comissão técnica definida, do clube, fixa e não minha. Então, qual é a minha ideia? De repente sair de treinador, passar para uma outra situação dentro do clube, de gestão, mas já virando para uma parte mais diretiva. E colocar alguém que eu esteja preparando para ser técnico. Tem o Jaime de Almeida, que é do clube, e o Junior, que veio de fora. Preparar esses caras para ter o nosso suporte para desenvolver futebol. Essa é uma ideia melhor, que pode prosperar. Não conversei com a Patricia nem nada. É ideia que pode vir a acontecer se o Flamengo entender que é boa. Mas não existe hoje. É mais para frente.
L!: Seria, então, no início, um estilo europeu, como um manager?
Com todo respeito, vocês tratam manager como ladrão. Quando fala em Luxemburgo como manager, Luxemburgo é ladrão, só está preocupado em discutir contrato com jogador. Faz isso porque ganha 10%. Eu preciso de 10%? Vai discutir a compra de jogador porque está envolvido na transação. Lá (Europa) é natural o Alex Ferguson, o Arsène Wenger, o (Fábio) Capello, o (José) Mourinho intermediarem porque eles têm o orçamento para trabalhar. É o que eu estou trabalhando no Flamengo, o orçamento. Mas aqui os sacanas fazem que o Luxemburgo ganha 10%. Não tem nada disso. Veja quanto de benefício eu trouxe para o Flamengo por estar aqui? Como na negociação do Felipe. O cara chega e fala que quer um valor, mas eu viro e digo: "Não, o Flamengo só paga tanto." Tenho experiência de mercado, conheço jogador, quanto paga. Trabalho com a razão, não com a emoção. Aqui falam que é ladrão. Vai fazer o quê?
L!: E isso te irrita muito?
Sim, me irrita. Porque isso começou a partir do momento em que fizeram uma CPI e colocaram uma mulher no Jornal Nacional falando que o Luxemburgo traficava uma bola de futebol com cocaína, que ganhava 10%, que tinha uma carteira de jogadores de futebol. Essa carteira nunca apareceu. E traficar cocaína em bola de futebol? Isso é complicado, né? Dali para frente começaram com isso. Mas já falei: no dia em que aparecer um cheque, uma transação minha, eu saio do futebol. Nunca apareceu nada e não vai aparecer. A não ser a fantasia na época da CPI, que não ficou provada. Imagine só. Dou porrada no Uram, não porque tenha problema com ele, tomo cerveja com ele. Mas ele vê o interesse dele e eu vejo o do Flamengo. Brigo duro. Se eu tivesse rabo preso, será que não haveria um filho da p... que diria "aqui, um cheque do Luxemburgo!" Será que não teria aparecido? Será que não dá para parar com essa coisa de Juca Kfouri, Marcelo Damato. Acham que todo mundo é pilantra. Só eles são corretíssimos. Você não vai colocar isso aí, vão colocar só o que é bom para vocês. Pode colocar. Damato só vê defeito. Será que não tenho um pouquinho de virtude? Já que ele falou tanto que eu era ladrão, na CPI ficaram provadas duas coisas: a minha idade, trocada pelo meu pai antigamente, o que acontecia com todos os jogadores, e Receita Federal, que eu discuti. O que mais existe na vida do Luxemburgo para ficar falando tanto? Se tivesse o rabo preso, ficaria em casa.
L!: Há a confusão no Brasil de que um manager não tem tempo para o campo e, por isso, você já foi chamado de decadente?
É cultura do futebol. Jornalista nenhum fica decadente, fica? Armando Nogueira até morrer era ícone e continua sendo. Jornalista adquire experiência, fica melhor. E o técnico é decadente? O cara ganha Prêmio Esso toda hora? Por que estou em decadência? Foi ruim pra cacete ano passado, só ganhei um campeonato. Pô, tem treinador que passa a vida toda e não ganha um campeonato. Meu ano passado foi ruim e estou em decadência. Sabe por quê? Porque eu sou bom pra cacete. Isso incomoda. Foram 23 anos como top. Quem você conhece assim? Aí começam a dizer que estou em decadência porque não ganhei o Brasileiro. Isso é criado por meia-dúzia. Não consigo mais dar treino de entrar em campo e chutar bola porque tenho 58 anos. Até gosto de fazer. Mas avancei com a minha qualidade. Para que vou dar treinamento de mini-jogo, de chute a gol, de cruzamento se você tem assistentes que dão? Antigamente o técnico fazia tudo. Aí arranjaram preparador físico, de goleiro, massagista. Tudo foi chegando. É você ter uma comissão técnica inteligente, de qualidade. Eu descobri isso e é a "patota do Luxemburgo". São profissionais de excelência que vêm para cá para melhorar a nossa qualidade. Então você tem um fisiologista, um fisioterapeuta, um psicólogo. É um que cuida da zaga, outro do meio de campo. São atribuições definidas em reuniões. Mas é a "patota do Luxemburgo".
L: Então o que você quis dizer ao falar em reciclagem após deixar o Atlético-MG em 2010?
Em respeito ao que está acontecendo do lado de fora. Trabalhar com isso (aponta para o campo) é mole. Parte tática de novo, o que tem? Nada. É na relação externa, o que está acontecendo com o mercado de futebol, com os empresários. O empresário hoje faz parte da comissão técnica. Você faz a palestra para o jogador dele aqui, ele vai na sala dele e faz a palestra ao contrário do que você fez. Como você vai agir? A mudança da Lei Pelé é importante para que você se fortaleça a relação. O técnico hoje fala para o jogador: "fecha aqui, você vai trabalhar, não vai jogar agora, daqui a pouco você joga." O empresário fala: "Não se preocupa. Se o Vanderlei não te botar para jogar no Fla, eu boto no Corinthians, Grêmio." Isso já aconteceu! Reciclagem é entender o que acontece no mercado.

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