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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Adriano mina próprio império e traz incerteza para o futuro

Fora da lista de Dunga, atacante preocupa amigos por reações extremas a momentos de pressão. Renovação com o Flamengo é improvável

Por Eduardo Peixoto Rio de Janeiro
Adriano durante o treino do FlamengoAdriano momentos depois de chorar por ficar fora
da Copa (Foto: Marcelo Theobald / O Globo)
A ficha ainda não caiu. A análise é quase unânime entre as pessoas que cercam Adriano. As horas que se seguiram ao anúncio da ausência dele na lista de convocados para a Copa do Mundo foram aflitivas, mas o futuro pode ser ainda pior – e bem longe do Flamengo.

O choro soluçante do momento em que recebeu a notícia contrastou com a ilusória alegria durante o treino. A fantasia de guerreiro inabalável que vestiu diante das câmeras não resiste às conversas íntimas. O colo da mãe, Rosilda, foi o primeiro refúgio. Na casa dela, encontrou o empresário Gilmar Rinaldi, com quem despejara lágrimas minutos antes, por telefone.

Naquele instante, Adriano recuperou – um pouco – da força. Mas logo se deu conta de que desperdiçou por causa de atitudes repetidas e pouco profissionais a chance que buscou quando assinou contrato com o Flamengo, no dia 7 de maio de 2009.

A depressão mal curada que o motivou a largar o Inter de Milão e gozar de uma microaposentadoria transformou-se na vontade, turbinada por uma boa dose de vaidade, de disputar a Copa do Mundo. Queria mostrar que ainda era o Imperador e conseguiu. Foram 19 gols e importância singular para tirar o clube mais popular do país de uma fila de 17 anos sem conquistar o título brasileiro.

O apelido dado pela imprensa italiana, aliás, norteia a vida de Adriano. Para o bem e para o mal. A sensação de poder o seduz e o atrapalha. E foi assim que ocorreu no Flamengo. A devoção dos companheiros e a subserviência da diretoria ajudaram a subir ao Olimpo no ano passado e ao duro golpe de um império deposto.

Jamais questionado, faltou a treinos, perdeu jogos importantes, engordou... A explosão técnica e tática que fez ressurgir o híbrido de Imperador com Hulk no Brasileiro de 2009 desapareceu. Pesado, lento e apático recebeu uma chamada de Dunga, no último amistoso antes da Copa do Mundo. O técnico queria uma resposta.

Ela veio em forma de escândalo na favela da Chatuba. A vida pessoal de Adriano normalmente não diz respeito às páginas de esporte. Mas por culpa de seu declínio, cabia a questão: por que tanta indiferença em relação à seleção?

E assim surgiram um, dois, três, quase incontáveis problemas. Envolvido em uma rede de boatos e verdades, Adriano enroscou-se. Todos tinham uma história, uma festança a contar sobre o Imperador do Rio. O menino da favela que conquistou o asfalto, mas perdeu-se nas facilidades da vida do futebol.

Mas havia quem pudesse puni-lo. O dia 11 de maio foi emblemático. Dunga não estava confortável por tirar de Adriano a chance de disputar sua segunda Copa do Mundo. Mostrou que afetivamente ainda prende-se à doçura e bondade do grandalhão de 1,89m e, atualmente, acima dos 100kg. Só que alguém – e tinha de ser ele – deveria impor limites no reino de um Imperador desgovernado.
- Adriano não pode deixar que a tristeza atrapalhe o seu desempenho. Mas tenho certeza que sairá fortalecido dessa história e que tudo vai servir para ele construir uma nova etapa na vida – disse o psicólogo do Flamengo, Paulo Ribeiro (veja no vídeo ao lado).

Parceiro do Fla no projeto Adriano pode pular do barco
Gilmar Rinaldi traçara um plano para o pupilo: depois do resgate no Flamengo, a Copa do Mundo serviria para ratificar a volta por cima e facilitaria a assinatura de um dadivoso contrato com um clube europeu.

Agora, talvez nem mesmo a casa dele possa abrigá-lo. O contrato com o Rubro-Negro termina no dia 31 de maio e mais da metade do salário é pago pelo fornecedor de material esportivo do clube. Só que, em conversas internas, a Olympikus mostra-se dividida quando questiona a possibilidade de seguir no papel de mecenas.

Argumenta que paga caro e o atacante não devolve na mesma moeda. Ele não foi a qualquer evento de divulgação dos uniformes do Flamengo – e o contrato dele com a Nike permite isso. O título brasileiro também mostrou que o clube, e não apenas Adriano, é capaz de manter as vendas de uniforme nas alturas.
Para agravar o quadro, o Flamengo sequer procurou o parceiro para tratar do problema. Isso a 19 dias do fim do contrato do maior astro da equipe.
- Já começamos a conversar com todos os jogadores que têm contrato terminando. Mas as situações do Adriano e do Love são mais complicadas - declarou o diretor jurídico do Flamengo, Luis Manoel.

O staff de Adriano prefere aguardar e respeitar o luto momentâneo pela ausência na Copa do Mundo antes de pensar mais adiante.

- Há uma tristeza enorme no Adriano, nos amigos e na família. Não é a hora de tratar sobre o futuro. Ele pensa exclusivamente na partida contra o Universidad de Chile – disse o advogado do atleta, Diogo Souza.
De fato, o presente bate à porta. Diante de um Maracanã lotado, o Imperador terá a oportunidade do primeiro discurso pós-derrocada às 19h30m (de Brasília) desta quarta-feira. Mas, em vez de palavras, o troco tem que vir com a bola nos pés. A nação brasileira não o espera mais. Só que, como gosta de se designar, a nação rubro-negra ainda bate palmas à espera do despertar da majestade, que só marcou dois gols em cinco jogos no torneio continental. Afinal, como disse o gerente de futebol Isaías Tinoco “a Copa do Mundo do Flamengo é a Libertadores”.

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